A história é uma galeria de líderes fracassados. Gente que não foi muito bem no exercício da liderança, como Hitler, Che Guevara e Pinochet. A nossa história mais recente também está cheia de exemplos atuais de lideranças fracassadas, só que em pleno exercício, o que para mim só é possível em virtude de um fracasso ainda maior que se instalou na alma de nossa gente brasileira que aprendeu a apanhar calada por não ter consciência de sua força.
No entanto, independente dessa nossa vocação para se submeter a lideranças fracassadas, a questão que tem atravessado a história da humanidade permanece: Por que os líderes fracassam? Muitos livros já foram escritos para abordar essa questão. Um deles fora o livro bíblico de 1 Samuel; escrito muitos anos antes de Cristo.
Nessa obra, encontramos a história de um líder em ascensão na nação de Israel, Saul. Esse jovem rei possui grandes desafios. Ele deveria trabalhar para unificar as doze tribos de Israel, formar um exército a partir de pessoas sem qualquer experiência nas ciências militares e enfrentar um grande inimigo, os filisteus.
A despeito desses desafios, Saul tinha tudo para dá certo. Ele poderia ter se tornado um líder consagrado na história de Israel. A história, contudo, mostra justamente o contrário. Saul se revelou, como líder, um grande desastre. E qual foram as razões? Muitos podem pensar que Saul fracassou por causa dos desafios que teve que enfrentar, mas isso não é verdade, pois não existe uma verdadeira liderança que não tenha enfrentado desafios. O problema de Saul, como se pode ver no relato de Samuel 13, foi a falta de habilidade para enfrentar os desafios.
Olhando, mesmo superficialmente para essa história, podemos identificar as seguintes atitudes adotadas por Saul, e que ainda são as marcas de muita gente em nossos dias, que o levaram ao fracasso:
1. Impaciência ou precipitação. Essas são qualidades das mais importantes
para o exercício de uma boa liderança. Não dá para pensar que alguém será bom como líder agindo impacientemente ou de modo precipitado, ou seja, sem a capacidade de
esperar o tempo certo para agir.
O incrível nisso, é perceber que esse é um conceito amplamente difundido em nossa sociedade por meio da sabedoria popular, como se pode ver nos seguintes ditados: “O apressado come cru”; “A
pressa é inimiga da perfeição”. Só que líderes fracassados não conseguem enxergar tais verdades e, por isso, agem precipitadamente como Saul que, devido um pequeno atraso de Samuel, tomou atitudes que nunca deveria ter tomado e que lhe causara grandes prejuízos.
2. Imprudente. A prudência é também uma importante virtude para o bom exercício da
liderança. Prudência é agir com cuidado,
responsabilidade, pensando nas consequências resultantes das ações. É
buscar fazer o certo, independente das circunstâncias.
Essa não era, infelizmente, também uma virtude de
Saul. Pelo contrário, Saul era um líder imprudente. Era alguém que agia errado mesmo sabendo que o que estava realizando não estava correto. Ele não possuía habilitação para sacrificar, pois não era profeta, mas mesmo assim, contra toda a lei de sua nação, decide oferecer sacrifício a Deus.
Líderes imprudentes como Saul, gente que age no erro de forma consciente, existe aos montes ainda em nossos dias. Esse tipo de liderança, contudo, é uma liderança fadada ao fracasso. Que mais dias, menos dias revelará a sua fragilidade.
3. Não reconhecem seus erros. Essa é também uma razão que tem levado muitos líderes ao fracasso. São pessoas que não conseguem reconhecer as
suas falhas. Gente que, geralmente, pensa que isso é um tipo de fraqueza, quando na verdade deveriam ver a correção de atitudes como o
principal requisito para o sucesso de um líder.
Como ainda ocorre em nossos dias, a incapacidade de reconhecer as próprias falhas fora um problema que cedo se revelou na liderança de Saul. Quando o profeta Samuel, um líder experiente e já consagrado, o questionou sobre o que havia feito, Saul, como uma espécie de metralhadora, foi colocando a culpa no inimigo, no seu exército e no próprio Samuel.
Líderes que fracassam em pleno século XXI ainda usam desse mesmo expediente de Saul. São especialistas em transferir a culpa para os outros. Em atribuir todo o fracasso aquilo que esta a sua volta e não as suas atitudes inconsequentes ou mal planejadas.
4. Falta de foco. Um líder que perde o foco é uma liderança sem rumo. É alguém que não sebe exatamente para onde vai, que age no calor das circunstâncias e, justamente por isso, tem um grande potencial para colocar tudo a perder, como uma espécie de guia cego que leva um monte de gente para o buraco.
Na galeria histórica de líderes que perderam o foco, Saul também tem ocupado um lugar de destaque. E qual o foco que ele perdeu? O que deveria observar e deixou de lado? Saul deveria guardar o mandamento do Senhor. Deveria dirigir a nação com base na lei de Deus. Ele era o responsável por cumprir e fazer cumprir a palavra do Senhor em sua nação. Todavia, Saul deixou tudo isso de lado para seguir guiado pelas circunstâncias da vida.
O fracasso de Saul, revela nesse sentido, um coração incrédulo. Por que? Porque todo aquele que deixa o seu foco de lado para seguir por outro caminho, sem palavras, está declarando que não acredita naquele projeto. A sua alma não sente segurança naquilo que deveria fazer e isso o leva em direções que não deveria seguir e, consequentemente ao fracasso, porque a vitória na liderança não se constrói dissociada de um profundo compromisso de fé.
No Brasil, como disse no início, temos muitos líderes fracassados em plena atividade. São os nossos Sauls da atualidade. Gente precipitada, imprudente, incorrigível e que faz tempo que não tem o nosso país como foco. É um pessoal, que a semelhança de Saul, construiu uma cosmovisão umbilical. Mas, como disse o profeta, vou dirigir os meus pensamentos a um futuro esperançoso. Para a ideia de que tudo isso é só uma questão de tempo. Saul passou. Os Calheiros, Collors, Sarneys, Serras, Neves, Campos, Ferreiras, Coutinhos, Garotinhos e Cabral's também passarão.
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