Um recado para Arquipo


           Na província da Ásia, na região onde se localiza atualmente a Turquia, no vale do rio Licos, existia uma cidade chamada Colossos. Nessa pequena cidade de nome estranho – monstruosidade - havia uma pequena igreja composta, em sua grande maioria, de crentes de origem gentílica. Não sabemos ao certo como essa igreja veio a surgir, mas, se tomarmos como referência a carta do apóstolo Paulo endereçada a essa igreja, somos levados a crer que essa comunidade fora fruto do trabalho de um homem chamado Epafras. Ele, segundo o apóstolo Paulo, fora o instrumento utilizado por Deus para instruir na fé cristã aquelas pessoas que constituíam a igreja em Colossos[1]. 
            Segundo Epafras, conforme relatório apresentado ao apóstolo Paulo, a igreja em Colossos era um ótimo exemplo de exercício no amor cristão[2]. Todavia, era também uma igreja que muita preocupação trazia ao seu pastor[3]. Assim, somos levados ao seguinte questionamento: de onde brotavam as coisas que, na visão de Epafras, tanto ameaçava a igreja em Colossos?
            De acordo com Paulo, o que certamente tomou conhecimento por meio do relatório de Epafras, havia na igreja de Colossos pessoas - muito provavelmente “cristãos” ligados ao judaísmo e a uma forma incipiente de gnosticimo - que tentavam desviar essa igreja do caminho da verdade. Em termos gerais, podemos dizer que esses falsos irmãos, por meio de seus ensinamentos heréticos, negavam a suficiência de Cristo Jesus para a salvação dos crentes de Colossos.
            Assim Paulo orienta aos crentes dessa igreja para não se deixarem enganar por ninguém “com raciocínios falazes”[4]; para que tomem todo o cuidado para “que ninguém [os] venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo”[5]; para que não se deixem julgar por quem quer que seja “por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo”[6] e, finalmente, para que também não deixem que “Ninguém se faça árbitro contra [eles], pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal, e não retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus”[7].
            Com o mesmo intuito de desviar os crentes de Colossos dos ensinos dos falsos mestres que rodeavam essa igreja e também com o propósito de levá-los a uma melhor compreensão do ministério de Deus, Cristo, o apóstolo Paulo faz em sua carta endereçada a esses irmãos uma profunda reflexão sobre a pessoa e a obra de Cristo. 
            Ele, segundo Paulo, nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor[8]; Nele temos a redenção, a remissão dos pecados[9]; Nele esta a imagem do Deus invisível[10]; tudo foi criado por meio Dele e para Ele[11]; Ele é antes de todas as coisas e Nele tudo subsiste[12]; Ele é a cabeça da igreja[13] e a esperança da glória[14] e Nele somos circuncidados, sepultados mediante o batismo, e ressuscitados para uma nova vida[15].
            Dessa forma, Paulo demonstra para a igreja de Colossos que não existe nenhum fundamento na argumentação daqueles que negam a suficiência de Cristo.
            É interessante, contudo, observarmos que em meio a todo esse grande problema enfrentado pela igreja de Colossos, havia uma pessoa que parecia não ver nada do que estava acontecendo: Arquipo. 
            Alguns comentaristas defendem que Arquipo pastoreava a igreja de Colossos ao lado de Epafras, que na ocasião da escrita da carta aos colossenses encontrava-se junto ao apóstolo Paulo em Roma[16]. Essa ideia, ainda que não possa ser plenamente confirmada, parece encontrar amparo no testemunho interno da própria carta aos colossenses, visto que nesse documento Arquipo é apresentado como alguém que havia recebido um ministério, bem como pelo testemunho interno da carta à Filemom, onde Arquipo é descrito por Paulo como um companheiro de lutas[17].
            Concluímos, portanto, a partir dessas declarações, que Arquipo, ainda que não fosse o pastor da igreja em Colossos, era alguém que possuía uma posição de importância nessa igreja e até mesmo nas igrejas localizadas na região do rio Licos como Laudiceia e Hierápolis.
            Esse destacado líder da igreja primitiva, contudo, como podemos depreender das palavras do apóstolo Paulo a ele especificamente endereçada, era alguém que estava precisando de uma exortação, de um conselho. E esse conselho vem a sua vida por meio de um recado do apóstolo Paulo.
            O que o apóstolo Paulo manda lhe dizer?  Qual é o seu recado para Arquipo? Primeiro, que estivesse atento para o ministério que ele havia recebido. Noutras palavras, o recado de Paulo é para que Arquipo, literalmente, estivesse com os olhos bem abertos para o serviço que fora colocado em suas mãos.
            Isso não quer dizer necessariamente que Arquipo estivesse cometendo ativamente algum erro ou que estivesse passivamente negligenciado o seu ministério, o que também não podemos deixar de considerar. Mas que ele abrisse bem os seus olhos, pois, como vimos, a igreja de Colossos estava enfrentando algumas dificuldades e era preciso, naquela situação, está atento, vigilante.
            De modo prático, somos levados a pensar que Arquipo, de alguma forma, deveria contribuir para confirmar os crentes que estavam aos seus cuidados na fé em Cristo Jesus e combater os lobos vorazes que rodeavam o seu rebanho; aqueles que tentavam desvirtuar as suas ovelhas do verdadeiro Cristianismo.
            Segundo, o recado de Paulo a Arquipo é para que o mesmo não perdesse de vista que o ministério ou serviço que ele tinha em suas mãos ele havia recebido no Senhor. A ideia aqui colocada pelo apóstolo Paulo, como ele também destaca no próprio corpo de sua carta aos colossenses, é que Arquipo não estava trabalhando para homens, mas para Deus. E esse Deus não era uma pessoa qualquer, mas justamente o dono de sua vida.
            Essa, sem dúvida, deveria ser a visão de todo o cristão, haja vista, como colocou o apóstolo Paulo, tudo o que fizermos, seja em palavra, seja em ação, devemos fazer em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai[18]. Não obstante, essa deve ser a marca do ministro por excelência, haja vista que o ministro deve ser o exemplo para o rebanho como entende o apóstolo Paulo e fica evidente no chamado que faz aos seus ouvintes para imitá-lo justamente na medida em que ele é um imitador de Cristo. Ou seja, um exemplo de servo.
            Saber que estava trabalhando para Deus deveria está impregnado no coração de Arquipo. Isso confortaria o seu coração e, com certeza, o ajudaria a exercer o seu ministério em meio ao clima turbulento que tentava se instalar na igreja de Colossos. 
            Terceiro, o recado de Paulo a Arquipo lembrava a esse ministro de Deus que ele não podia perder de vista o cumprimento da obra que fora colocada em suas mãos. Cumprir aqui é tornar pleno. Assim, Paulo quer dizer a Arquipo, no contexto dessa passagem, que ele precisa trabalhar com bastante atenção para concluir a obra que Deus havia colocado em suas mãos. Nesse sentido, Paulo parece advertir a Arquipo que ele precisa tomar cuidado para que a obra de Deus confiada a ele não viesse a ser prejudicada.
            Tomando como referência um o último registro bíblico do apóstolo Paulo, percebemos que esse conselho que o apóstolo traz para Arquipo ele levava também para o seu próprio ministério: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”[19].
            Diferentes daqueles que começam bem, mas não terminam bem, como será o caso de Demas, Paulo chama a Arquipo para, a semelhança dele, começar bem e terminar bem. O desejo de Paulo, portanto, é ver o sucesso ministerial de seu companheiro de lutas. Isso que é um grande amigo.
            Dessa parte expositiva, podemos tirar algumas importantes lições:
            Primeiro, precisamos de amigos como o apóstolo Paulo; amigos que nos digam a verdade, desejem o nosso sucesso e nos ajudem em nossa caminhada cristã.  Segundo, o conselho de Paulo a Arquipo bem que poderia ser dirigido a cada um de nós. É bem verdade que estamos muito distante do tempo em essas palavras foram escritas. De igual modo, também é verdade que muitos de nós não exercemos um ministério como o de Arquipo. Todavia, é inegável que muitos de nós precisamos estar mais atentos ao ministério que Deus colocou em nossas mãos. Também é verdade que precisamos a cada dia entender que o nosso trabalho é para o Senhor e que, igualmente, precisamos, como fez Paulo, levar esse trabalho a conclusão.
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[1] Colossenses 1.7.
[2] Colossenses 1.8.
[3] Colossenses 4.13
[4] Colossenses 2.4.
[5] Colossenses 2.8.
[6] Colossenses 2.16,17.
[7] Colossenses 2.18,19.
[8] Colossenses 1.13.
[9]Colossenses 1.14.
[10] Colossenses 1.15.
[11] Colossenses 1.16.
[12] Colossenses 1.17.
[13] Colossenses 1.18.
[14] Colossenses 1.27.
[15] Colossenses 2.11-13.
[16] Filemom 23.
[17] Filemom 2.
[18]Colossenses 3.17.
[19]2 Timóteo 4.7. 
Autor: Hebert Leonardo Borges de Souza, ministro batista, bacharel em teologia pelo Seminário Teológico Batista Nacional de Pernambuco, licenciado em física pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, especializado em teologia sistemática pelo Seminário Presbiteriano do Norte e mestrando em teologia pelo Seminário Teológico Filadélfia.

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