“Há duas
maneiras de representar e recomendar uma religião verdadeira e seu poder no
mundo: pelo ensino e pelo exemplo duma vida. Ambas são abundantemente
exemplificadas nas Escrituras Sagradas”.
Isto Jonathan
Edwards escreveu, e ele mesmo demonstrou-lhe a veracidade. Raras vezes, olhando
para todo o passado, achamos outro homem que conhecia tão bem as Escrituras e
ao mesmo tempo exibia seus ensinamentos numa vida tão santa, como o grande
avivalista americano do século dezoito. Era brilhante de intelecto, poderoso em
escrever e santo em todo o seu modo de viver.
Jonathan entrou
para a Universidade de Yale com doze anos de idade e, aos dezesseis, formou-se
com as mais altas honras. Tinha por costume, durante sua vida, passar treze
horas por dia em seu gabinete, em estudos, meditação e comunhão com Deus.
Combinou o preparo intelectual com profundas experiências, durante o Avivamento
que veio à América por meio de seu maravilhoso ministério. Nasceu três meses
depois de John Wesley, 5 de outubro de 1703, e foi um instrumento escolhido
para uma Visitação Divina na América, enquanto John Wesley estava sendo usado
para despertar a Inglaterra.
Ainda na
meninice, lia obras de pensadores profundos, deleitando-se nelas e em
experiências graciosas. Edwards muito cedo penetrava nas doutrinas bíblicas,
não meramente no conhecimento intelectual, mas naquela compreensão espiritual
que vem do Espírito Santo.
CONVERSÃO
“Eu tive muita
preocupação a respeito de minha alma, desde a infância, mas passei duas épocas
de vivificação antes da experiência de ser transformado, a qual me trouxe nova
disposição e entendimento das coisas espirituais. A primeira vez foi na
meninice, antes de entrar para a Universidade. Aconteceu durante um Avivamento
poderoso na igreja de meu pai. Naquele tempo preocupavam-me constantemente as
coisas religiosas e a salvação de minha alma. Era ativo no serviço do Reino;
orava secretamente cinco vezes por dia. Eu e colegas de escola construímos um
abrigo numa floresta como esconderijo para oração. Além disso, eu tinha outros
lugares para intercessão escondidos no bosque, aonde ia sozinho e ficava
quebrantado em súplicas diante de Deus”.
Apesar do lar
exemplar de Jonathan – era filho dum ministro – e apesar de suas muitas
preocupações espirituais, ele somente foi convertido na mocidade. Formou-se na
Universidade aos dezesseis anos, ficando depois mais dois anos em preparo para
o ministério. Durante o tempo na Universidade, disse ele, sentiu grande
ansiedade, especialmente nos últimos anos, quando foi atacado de pleurisia, que
quase o levou deste mundo. “Deus sacudiu-me em cima do abismo do inferno. Assim
fui levado a buscar a salvação de modo nunca usado antes. Senti o desejo de me
separar de todas as coisas deste mundo por causa de Cristo. A busca da salvação
tornou-se a preocupação principal de minha vida”.
“Desde aquele
tempo comecei a ter uma nova compreensão e novas ideias sobre Cristo, Sua obra
redentora e a maravilha do Seu plano de salvação. Uma doce sensibilidade vinha
à minha alma, de vez em quando, e eu exultava na meditação sobre isso. Tinha
grande desejo de passar meu tempo a ler e meditar sobre a beleza e o esplendor
de Jesus, a excelência de Sua pessoa, e o caminho da salvação pela graça. Não
encontrava quaisquer livros tão agradáveis como aqueles que tratavam destes
assuntos. As palavras de Cantares 2:1 me deleitavam: “Eu sou a Rosa de Sarom, o
lírio dos vales”. Parecia que este verso expressava a formosura e encanto de
Cristo. Mas se estava alegre em sentir-me tão bem, não me sentia satisfeito.
Havia anelos profundos da alma para Deus e Seu Filho, por mais santidade. Às
vezes meu coração estava tão cheio que quase se arrebentava. Isto me trazia à
memória o que dissera o salmista: “A minha alma está quebrantada de desejar”.
Sentia tristeza em não ter voltado para Deus mais cedo, para ter tido mais
tempo de crescer na graça. Gastava horas em pensar sobre as coisas divinas,
muitas vezes andando pelas florestas e lugares solitários, em meditação,
comunhão e súplicas a Deus. Em qualquer lugar onde estivesse, petições de minha
alma subiam ao Trono. A oração me era tão natural como o respirar, e um modo de
satisfazer meu coração ardente de amor. O deleite que agora sentia nas coisas
de religião era bem mais diferente daquele que experimentara na meninice, como um
cego antes de enxergar, não tendo noção das cores, tão belas e agradáveis. O
gozo, agora, nas meditações espirituais era mais puro, mais íntimo, mais
completo”.
NO MINISTÉRIO
Jonathan
Edwards, que contava somente dezenove anos quando foi licenciado a fim de
pregar o evangelho, escreveu setenta resoluções que alguém disse ser “o sumário
mais inspirado do dever cristão, o compêndio mais poderoso de padrão evangélico
que a mente do homem até agora tem expressado”. Algumas destas regras para a
disciplina da própria vida eram:
Nunca fazer
coisa alguma, seja do corpo ou alma, senão aquela que glorifique a Deus, nem
permitir tal coisa quando houver possibilidade de impedi-la.
Nunca
perder um momento de tempo, mas usá-lo como proveito à medida das
possibilidades.
Viver
abundantemente durante esta vida aqui no mundo.
Estudar as
Escrituras tão ardente, constante e frequentemente, que seja possível perceber
um crescimento no conhecimento delas.
Procurar,
cada semana, crescer em espiritualidade e na experiência da graça divina.
Nunca falar
coisa alguma de alguém, incompatível com o mais alto padrão de honra.
Agir do
mesmo modo que faria se já tivesse visto a felicidade do céu ou o terror do
inferno.
Nunca fazer
coisa alguma que não faria se já estivesse na hora de ouvir a última trombeta,
no Dia do Juízo.
SANTIFICAÇÃO DA VIDA
Nesse tempo,
Edwards escreveu: “Queimava em meu coração o desejo de ser em tudo um crente
completo, conformado à bendita semelhança de Cristo e de modo que pudesse
viver, em todas as coisas, segundo as regras puras e abençoadas do evangelho”.
Jonathan viveu
uma vida de simplicidade e disciplina em seu lar. Casou-se com uma bela moça,
culta e consagrada – uma verdadeira companheira, que sabia compartilhar de seus
ideais e entender suas experiências espirituais. Oito filhas e três filhos
nasceram a este feliz casal. Sua vida diária foi tão bem planejada que se diz
ter feito ele, em poucos anos, o que outros não fizeram durante uma vida longa.
Levantava-se às quatro ou cinco horas da madrugada e, metodicamente, marcava
tempos definidos para orar três vezes ao dia. “Edwards reconhecia que o poder
do ministério de um homem não está em proporção com sua atividade, mas com sua
comunhão com Deus e seu entendimento espiritual da verdade. Se alguém tivesse
dúvida de tais costumes no ministério, estudasse os resultados que acompanham
este modo de viver”.
Por meio da
oração e através da pregação poderosa, um Despertamento começou a ser sentido.
A respeito, disse Edwards: “De repente, veio sobre o povo uma convicção
profunda, uma preocupação séria a respeito de religião e de coisas eternas,
tornando-se isto geral na cidade, entre pessoas de todas as idades ou posições
sociais. O ruído entre ossos secos tornava-se cada vez mais acentuado.
Conversas fora do espiritual ou de coisas eternas eram rejeitadas. Em qualquer
grupo e em todas as ocasiões só se falava nestas coisas exceto quando havia
necessidade de tratar de negócios. A mentalidade popular foi elevada acima de
tudo quanto era mundano”.
“Quase não
havia uma só pessoa, jovem ou velha, que não estivesse profundamente
interessada nas verdades eternas. Aqueles que se haviam revelado mais vaidosos
e descuidados, aqueles que tinham falado levianamente de uma religião vital e
experimental eram agora despertados. A conversão de almas continuou de modo
maravilhoso, aumentando dia a dia. Almas em massa vieram a Jesus Cristo.
Durante dias e meses, contemplamos pecadores saindo das trevas para Sua
maravilhosa luz, tirados “dum lago horrível, dum charco de lodo”, para terem
seus pés firmados sobre uma rocha, e seus passos firmados pelo Salvador.
Uma carta
circular, assinada pelos ministros, apelando por oração, ajudou a espalhar o
avivamento por outros lugares. Um pastor, que mais tarde tornou-se presidente
da “Princeton University”, escreveu: “Grande número de pessoas vinha
diariamente a seu pastor pedir conselhos sobre coisas eternas. Maior número
veio em três meses para esse fim do que viera em trinta anos antes”.
“Esta obra de
Deus continuou, e o número de santos verdadeiros, multiplicado, fez em pouco
tempo uma alteração gloriosa na cidade (Northampton). Assim, durante a
primavera e o verão seguintes (1735), a cidade parecia cheia da presença
divina. Ela nunca estivera tão cheia de amor, prazer e alegria, mas ao mesmo
tempo tão cheia de ansiedade. Quando se reunia, a mocidade gastava seu tempo em
conversar sobre a excelência de Cristo e seu amor; a glória do caminho da
salvação e a graça soberana de Deus; Sua obra gloriosa em converter almas, a
veracidade da Bíblia, Sua perfeição, etc. Até nas ocasiões de casamento, as
quais, antes eram tempo somente para prazeres e diversões, aproveitava-se a
oportunidade para discutir sobre religião, com toda seriedade”.
Quando
encontramos um homem escolhido por Deus para a vinda dum Despertamento espiritual
a um país, vale a pena estudar-lhe a vida. Edwards escreveu: “A santidade de
Deus sempre Se revelou em mim como atributo sublime de Seu carácter. As
doutrinas da soberania divina, a graça livre em mostrar misericórdia a quem Ele
deseja manifestá-la e a dependência do homem da operação do Espírito Santo
têm-se-me revelado como doutrinas gloriosas. Tenho amado as doutrinas do
Evangelho. Considero o Evangelho um rico tesouro, o tesouro que mais hei
desejado. O caminho da salvação em Cristo é para mim glorioso e excelente,
agradável e belo”.
“Por muitas
vezes tenho estado cônscio da glória da Terceira Pessoa da Trindade, de Sua
obra santificadora, de Suas operações santas, comunicando à alma luz e vida
divinas. Deus, na dádiva do Seu Santo Espírito, tem-Se revelado como uma fonte
infinita de glória e doçura, suficiente para encher e satisfazer a alma,
derramando sobre nós aquela gloriosa comunhão, como o sol em todo o seu
esplendor difunde luz e vida. Vem sobre mim uma sensibilidade da excelência da
Bíblia, como a luz da vida. Sinto fome da Palavra, desejando que ela habite
ricamente em meu coração”.
Mais de
duzentos anos são passados desde o tempo de Jonathan Edwards. Vivemos numa
época mais necessitada de um Avivamento Espiritual do que aquela em que ele
viveu. Temos o mesmo Deus, com o mesmo poder e desejo de nos abençoar. O que
nos falta, hoje, não está do lado divino, mas do humano – um instrumento
preparado, um profeta que venha de Deus, um homem em cuja vida o poder do Alto
tenha livre curso. Que Deus levante nesta hora, em nosso Brasil, homens para a
brecha, atalaias para o muro, arautos para um novo dia!
Fonte: http://www.monergismo.com/textos/biografias/edwards_vida_appleby.htm
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