João
7.37-44
O Brasil é um país extremamente
religioso. Talvez, um dos países mais religiosos do mundo. O retrato da
religiosidade brasileira encontra-se estampado, por exemplo, com muita clareza
e riqueza de detalhes, nos dados do último censo publicado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Ali, no quadro religioso apresentado
pelo IBGE, é impossível não observarmos o crescimento quantitativo, nos últimos
anos, daquilo que tem sido caracterizado como o seguimento cristão evangélico.
Com base em informações dessa natureza, bem como na
própria experiência de vida do povo brasileiro que tem presenciado a abertura
de igrejas de modo quase desenfreado, há quem defender a tese de que o Brasil é
um país de muita fé em Deus.
A
partir de expressões como essa, particularmente apoiadas no seguimento
evangélico, aquele seguimento religioso que mais tem crescido no Brasil e que no
qual estamos inseridos, gostaria de lhes propor alguns questionamentos:
Primeiro: O Brasil evangélico é
verdadeiramente um país de muita fé em Deus?
Segundo: Temos, de fato,
experimentado em terras brasileiras um crescimento da genuína fé cristã.
Infelizmente, o tipo de fé que mais tem crescido no
Brasil entre os evangélicos não pode ser caracterizado como uma fé genuinamente
cristã, pois o que mais vemos crescer em nosso país é uma fé que se apóia em lugares sagradas, em objetos encantados, em pensamentos
positivos, em uma relação de barganha com Deus e em um sacerdotalismo que a
cruz aboliu e que, lamentavelmente, tem alimentado um mercado bastante
lucrativo, bem como o egoísmo de muitas pessoas.
É interessante, contudo, observarmos que essa fé morta
que tem crescido em terras brasileiras não é um evento singular na vida da
igreja, pois, como se pode observar nas páginas da história, o período que
antecedera a Reforma Protestante do século XVI e que também lhe dera causa fora
um período, a semelhança do que temos vivido hoje no Brasil, de uma fé morta e
anticristã.
Com o intuito de resgatar o verdadeiro significado da fé
cristã, os reformadores revisitaram a Escritura e, desse modo, nos ensinaram que
uma igreja que deseja manter-se no trilho da verdade deve proceder da mesma
maneira.
Portanto, se desejamos entender um pouco mais sobre
aquela doutrina que os reformadores chamaram de Sola fide, devemos, como eles, mergulhar entre as páginas da
Escritura Sagrada para então descobrirmos o seu verdadeiro significado. Devemos
nos voltar para a Escritura, pois só assim, entenderemos o tipo de fé que Deus
deseja gerar em cada um de nossos corações.
Embora o texto que escolhi para a nossa reflexão, não
tenha sido o texto que despertara a atenção de Lutero para essa doutrina
bíblica - segundo ele, a doutrina que determina se uma
igreja está de pé ou não - temos no mesmo os elementos fundamentais para
entendemos o que os reformadores pensavam sobre essa questão.
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Nele encontramos Jesus discursando para algumas pessoas
no último dia da festa das Cabanas; a festa que trazia para nação de Israel a
memória de sua peregrinação pelo deserto e de como Deus havia sido graciosa ao
conceder-lhes tão grande salvação. Nessa festa, durante os primeiros sete dias,
o sacerdote descia até o tanque de Siloé, apanhava um vaso de água e ao voltar
ao templo o derramava aos pés do altar enquanto o povo com ramos de palmeiras
nas mãos recitava a seguinte expressão: “E vós, com alegria, tirareis águas das fontes da salvação”
(Isaías 12:3) e o coro dos levitas entoava o Hillel, o conjunto de salmos entre
o salmo 113 e o salmo 118. No oitavo dia, o último dia da festa, esse ritual
era repetido diversas vezes e a mesma expressão recitada enquanto a água era
derramada sobre o altar como oferta.
É neste cenário que Jesus declara: “Se alguém
tem sede, venha a mim e beba”. Ou seja, é como se Jesus
estivesse declarando aquele povo: vocês pensam que
podem encontrar salvação confiando numa religiosidade morta, vocês pensam que podem encontrar significado para as suas
vidas confiando num ritualismo cego, vocês pensam que podem ter vida confiando
nessas coisas, contudo, vocês estão completamente enganados. Se vocês
desejam verdadeiramente encontrar a salvação, vocês precisam vir a mim.
Com essas palavras, Jesus deixa claro para seus ouvintes
que ele era o único caminho para salvação. Resta-nos,
então, entender agora como se pode encontrar essa salvação de forma concreta em
Jesus? O próprio Jesus, por meio de sua segunda fala nessa perícope, nos
responde essa pergunta: por instrumentalidade da fé somente.
Observando que Jesus não acrescenta nada a fé como
elemento necessário a salvação como, lamentavelmente, tem feito alguns
seguimentos evangélicos em nossos dias, entendemos o porquê dos reformadores
insistiram em defender a posição doutrinária conhecida como Sola fide: É
justamente porque a fé, e somente a fé, é suficiente para abrir as portas da salvação
ao homem perdido e pecador.
Mas, que tipo de fé é essa que materializa a salvação em
nossas vidas! Acredito que frisar essa questão é extremamente importante, pois,
como visto na introdução de nossa reflexão, vivemos num país, segundo o
entendimento de algumas pessoas, de “muita fé em Deus”. Pontuemos, então, os
elementos distintivos dessa fé ensinada por Jesus.
PRIMEIRO, A FÉ, E SOMENTE A FÉ, QUE PROMOVE SALVAÇÃO É A FÉ DEPOSITADA EM JESUS CRISTO.
A partir dessa declaração de Jesus, somos levados a
entender que o verbo encarnado, o próprio Deus, não espera de nós somente a fé.
Mas, o que Deus requer de nós para a salvação é a fé somente depositada somente
em Cristo Jesus.
Diante
dessa declaração de Jesus só nos resta perguntar: ONDE
ESTÁ DEPOSITADA A FÉ DO POVO BRASILEIRO? AQUELE POVO QUE ALGUNS DIZEM ACREDITAR
MUITO EM DEUS.
·
Lamentavelmente, o Brasil é um país que
tem depositado sua confiança em muitos deuses, ao invés de depositá-la em
Cristo Jesus.
·
Todavia, o mais lamentável ainda é ver que
grande parte do Brasil evangélico não tem seguido um rumo diferente, pois, tem
crescido em nosso país denominações cujo fundamento não é a fé em Cristo para a
salvação.
·
Há ainda, nesse aspecto em particular,
aqueles que entendem que a fé em Cristo deve ser acrescida das obras para que a
salvação se torne uma realidade.
Essa realidade vivida em nossos dias, meus irmãos, em
nada difere daquilo que viveram os religiosos no tempo de Jesus e na época da
reforma. Todavia, é preciso que a igreja de cristo, em meio a essa confusão que
tem se instalado em nossos dias, venha ser porta voz de Cristo declarando: você precisa de salvação! Vá a Jesus, a fonte da vida, com fé e encontrarás o que
procura a tua alma!
SEGUNDO, A FÉ, E SOMENTE A FÉ, QUE PROMOVE SALVAÇÃO É A FÉ DEPOSITADA EM CRISTO JESUS
EXATAMENTE COMO REVELADO NA ESCRITURA.
Aqui Jesus mais uma vez noz traz uma grande lição. Ele
nos diz que não devemos crer em Cristo somente, pois só isso não basta. O que
precisamos é crer somente em Cristo Jesus
conforme revelado na Escritura.
Disso tiramos algumas lições:
- A ESCRITURA REVELA A CRISTO – (Alguns comentaristas tentam entender essa colocação de Jesus como uma referência a um trecho qualquer da Escritura não identificado especificamente) Todavia, como se depreende da afirmação de Jesus em Lucas 24:44, prefiro entender que essas palavras de Jesus apontam para a Escritura como um todo trazendo a revelação ao seu respeito.
- A FÉ QUE DEUS ESPERA DE CADA UM DE NÓS NÃO É UM PENSAMENTO INDEPENDE, MAS A FÉ APOIADA NA ESCRITURA e, COMO COLOCA O APÓSTOLO PAULO, VEM TAMBÉM PELA ESCRITURA. Podemos ilustrar essa verdade com o maior exemplo de fé que temos na história: ABRÃO! A Bíblia nos diz que Abraão depositou sua confiança na Palavra que Deus lhe dera e isso lhe fora imputado por justiça (Gn 15.6).
- Disso temos uma lição, adicional: quem não deposita a fé em Jesus, como revelado na Escritura, declara o próprio Jesus: sobre “ele permanece a ira de Deus”. (João 3:36).
- Por fim, é preciso também destacar ainda nesse ponto, que essa definição de fé que se apóia na Escritura nos ensina a evangelizar, ou seja, NÃO PODEMOS APRESENTAR O EVANGELHO DE QUALQUER MANEIRA, MAS O EVANGELHO DA FÉ FUNDAMENTADA EM CRISTO JESUS CONFORME REVELADO NA ESCRITURA.
Acredito meus
irmãos que aqui esteja, talvez, o maior problema para muitas pessoas,
justamente porque existem muitos que desejam acreditar em Jesus de seu
próprio jeito.
Nesse sentido, vivemos uma confusão semelhante a vivida
nos tempos de Jesus sobre a sua verdadeira identidade.
TERCEIRO, A FÉ, E SOMENTE A FÉ, QUE PROMOVE SALVAÇÃO É A FÉ QUE PRODUZ MUDANÇA DE VIDA.
Numa referência ao trabalho que o Espírito Santo
realizaria, conforme interpretação do evangelista João, Jesus nos ensina que a
fé e somente a fé salvadora produz mudança de vida. Isso que Jesus coloca,
podemos chamar de o vier pela fé do justo exposto por Paulo em sua carta aos
Romanos reproduzindo as palavras do profeta Habacuque.
Portanto, não podemos irmãos, como nos leva a entender Tiago, aceita a ideia de alguém que tenha se encontrado com a fé salvadora e não viva para a glória de
Deus por meio das obras que Deus de antemão preparou para os seus eleitos
praticassem (Tiago 2:17, Tiago 2:26).
Conclusão
Gostaria de concluir nossa reflexão chamando atenção,
agora de forma conjunta, para a fé que Deus espera de nós: UMA FÉ APOIADA SOMENTE EM CRISTO, CONFORME REVELADO EM SUA
PALAVRA E QUE NOS TRAGA MUDANÇA DE VIDA.
ESSA ERA A FÉ DOS REFORMADORES. QUE TAMBÉM SEJA ESSA A
NOSSA FÉ.
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