“A terra estava
corrompida à vista de Deus e cheia de violência. Viu Deus a terra, e eis que
estava corrompida; porque todo ser vivente havia corrompido o seu caminho na
terra. Então, disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra
está cheia da violência dos homens; eis que os farei perecer juntamente com a
terra. Faze uma arca de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos e a
calafetarás com betume por dentro e por fora”. (Gn 6.11-14)
“Contigo, porém, estabelecerei a minha aliança;
entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos.
De tudo o que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e fêmea, farás
entrar na arca, para os conservares vivos contigo”. (Gn 6.18-19)
“Leva contigo de tudo o que se come, ajunta-o
contigo; ser-te-á para alimento, a ti e a eles. Assim fez Noé, consoante a tudo
o que Deus lhe ordenara”. (Gn 6.21-22).
Segundo um pequeno livro que li há um tempo, a pergunta mais
crítica que qualquer pessoa enfrenta, geralmente nos dias que antecede a
partida para a eternidade (porque não ligamos para esse assunto quando estamos
com saúde e a agenda lotada de coisas para fazer), é: “De que maneira posso
ser colocado em posição correta com Deus?”. Em linguagem mais comum, seria:
“Como podemos ser salvos?”, pois, no fim das contas todos queremos, independentemente
do modo que tenhamos vivido aqui, que Deus nos coloque no fim da vida num bom
lugar.
Talvez por essa razão, esse
tipo de questão tenha suscitado um grande número de resposta. No primeiro
século, por exemplo, os judaizantes, grupo que o apóstolo Paulo combate na
carta aos Gálatas, afirmava que para alguém ser salvo era necessário também
observar as obras da Lei, mais especificadamente, a circuncisão, a guarda do sábado
e o conjunto de regras dietéticas do judaísmo. Assim, para estar de bem com
Deus, era preciso fazer uma cirurgia de remoção do prepúcio do pénis,
participar do culto da sinagoga e não comer peixe de couro, porco ou urubu (Ah!
Sangue também).
No século XVI, vimos a
Igreja Romana – que tenta se passar pela única igreja verdadeira -, através do
Concílio de Trento – reeditando um debate que remontava aos tempos de Agostinho
e Pelágio – reafirmar – na linha mais semipelagiana - que a salvação, embora ofertada
pela graça, só é alcançada através de um processo que pode durar até a outra
vida (purgatório), o que não incluí as crianças falecidas sem passar pelo batismo.
Essas vão para outro lugar (o limbus
infantes) – que parece que foi fechado pelo Vaticano um dia desses.
Com a chegada do século XIX,
a igreja cristã evangélica conheceu o dispensacionalismo. Dividindo a Bíblia em
muitos pedaços e as boas-novas no evangelho do Reino – para os judeus – e da
graça – para os gentios – os dispensacionalistas nos levaram a acreditar – ou no
mínimo inferir – que existem mais de um modo de ser salvo, posto que Deus tem
estabelecido variadas maneiras de se relacionar com a humanidade.
Diante desse mar de confusão,
a história de Noé nos parece instrutiva. Ele viveu num mundo caído como o nosso
e cheio de problemas. Além disso, como qualquer bêbado que está agora tomando
cachaça numa barraca próxima a nossa igreja – aqui em Vitória de Santo Antão –
também era um pecador desesperadamente necessitado de salvação. Só que a Bíblia
nos diz que Noé foi salvo! E como foi salvo? Pela graça (Gn 6.8) – isto é,
sem merecer. E mediante a fé. Mas fé em quê? No Deus da palavra que o instruiu
acerca dos acontecimentos futuros e que o despertou a aparelhar uma arca para
salvar a ele e sua família (Hb 11.7).
A história de Noé é,
portanto, a história de um pecador salvo pelo Deus de toda a graça e tem a
clara intenção de nos ensinar que o Deus que salvou aquele velho pecador é o
mesmo que tem nos agraciado com a salvação. Além disso, nessa história
percebemos que a verdadeira fé compreende a advertência divina, teme o que está
por vir e age em obediência a Palavra de Deus, alcançando assim o seu favor (Ef
2.8). Não é apenas uma aceitação intelectual, pois sem obras a fé é morta.
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Hebert Leonardo
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