Quatro lições que aprendi com José


Passadas estas coisas, aconteceu que o mordomo do rei do Egito e o padeiro ofenderam o seu senhor, o rei do Egito. Indignou-se Faraó contra os seus dois oficiais, o copeiro-chefe e o padeiro-chefe. E mandou detê-los na casa do comandante da guarda, no cárcere onde José estava preso. O comandante da guarda pô-los a cargo de José, para que os servisse; e por algum tempo estiveram na prisão. E ambos sonharam, cada um o seu sonho, na mesma noite; cada sonho com a sua própria significação, o copeiro e o padeiro do rei do Egito, que se achavam encarcerados. Vindo José, pela manhã, viu-os, e eis que estavam turbados. Então, perguntou aos oficiais de Faraó, que com ele estavam no cárcere da casa do seu senhor: Por que tendes, hoje, triste o semblante? Eles responderam: Tivemos um sonho, e não há quem o possa interpretar. Disse-lhes José: Porventura, não pertencem a Deus as interpretações? Contai-me o sonho. Então, o copeiro-chefe contou o seu sonho a José e lhe disse: Em meu sonho havia uma videira perante mim. E, na videira, três ramos; ao brotar a vide, havia flores, e seus cachos produziam uvas maduras.  O copo de Faraó estava na minha mão; tomei as uvas, e as espremi no copo de Faraó, e o dei na própria mão de Faraó. Então, lhe disse José: Esta é a sua interpretação: os três ramos são três dias; dentro ainda de três dias, Faraó te reabilitará e te reintegrará no teu cargo, e tu lhe darás o copo na própria mão dele, segundo o costume antigo, quando lhe eras copeiro. Porém lembra-te de mim, quando tudo te correr bem; e rogo-te que sejas bondoso para comigo, e faças menção de mim a Faraó, e me faças sair desta casa; porque, de fato, fui roubado da terra dos hebreus; e, aqui, nada fiz, para que me pusessem nesta masmorra. Vendo o padeiro-chefe que a interpretação era boa, disse a José: Eu também sonhei, e eis que três cestos de pão alvo me estavam sobre a cabeça; e no cesto mais alto havia de todos os manjares de Faraó, arte de padeiro; e as aves os comiam do cesto na minha cabeça. Então, lhe disse José: A interpretação é esta: os três cestos são três dias; dentro ainda de três dias, Faraó te tirará fora a cabeça e te pendurará num madeiro, e as aves te comerão as carnes. No terceiro dia, que era aniversário de nascimento de Faraó, deu este um banquete a todos os seus servos; e, no meio destes, reabilitou o copeiro-chefe e condenou o padeiro-chefe. Ao copeiro-chefe reintegrou no seu cargo, no qual dava o copo na mão de Faraó; mas ao padeiro-chefe enforcou, como José havia interpretado. (Gênesis 40.1-22). 

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O que vemos nessa passagem? Um homem preso, José, dentre tantos presos. E por quê? Por que havia feito algo de errado? Por que era um transgressor? Por que cometera algum crime? Não, não, não ... e não. Porque no mundo de pecado a justiça nem sempre brilha como o sol do meio dia. Porque num mundo sujeito ao pecado, o pecado do outro pode nos afetar e tornar a nossa vida mais difícil.

Olhando para essa passagem sob essa perspectiva, podemos aprender com a história de José as importantes lições:

1. A vida do justo nem sempre é fácil.
O cristianismo contemporâneo, principalmente por esses lados do globo, tem pregado uma mensagem de "vitória". A ideia básica é que a vida cristã deve ser uma vida de prosperidade material e física, pois Deus veio ao mundo para nos assegurar uma vida abundante, cheia de bênção e realizações aqui nessa terra.

Aqueles que vivem na contramão dessa percepção, para os pregadores da prosperidade, estão deixando de se apropriar, pela fé, das bênção de Deus em Cristo Jesus para as suas vidas. Noutras palavras, estão vivendo abaixo do que Deus tem reservado para os seus.

Quando lemos a história de José, um servo fiel injustamente preso, somos levados a perceber o oposto daquilo que apregoam os pregoeiros da prosperidade: a vida dos servos de Deus nem sempre é fácil, posto, como bem observou o apóstolo Paulo, aqueles que decidem viver de maneira piedosa, isto é, alinhada com a Palavra de Deus, enfrentariam dificuldades (II Tm 3.12).

2. A felicidade do justo independe das circunstâncias difíceis da vida.
Sabiamente o apóstolo Paulo advertiu aos crentes de Roma que não se deixassem moldar pelos padrões do mundo, uma palavra que deveríamos fazer ecoar em nossas dias com grande intensidade. E por quê? Porque as nossas vidas não são vividas em uma bolha que nos separa da influência do mundo a nossa volta. Porque, como bem percebeu Paulo, o nosso tempo tem um grande poder de influência sobre nós. Porque, de fato, já sentimos a influência do mundo em nossas comunidades.

Uma das mais claras influência dos mundo sobre nós, igreja do Senhor, é o materialismo. Não o materialismo filosófico que vê a existência reduzida ao material, mas o materialismo de consumo. O que é isso? É a corrente de pensamento que alimenta a teologia da prosperidade e que nos leva a crer que a felicidade que tanto desejamos está atrelada a circunstâncias boas da vida e a posse de bens materiais.

Sob essa perspectiva, José tinha tudo para ser alguém infeliz, amargurado. Por quê? Porque estava preso injustamente. Porque não possuía nada material de grande valor. Porque as pessoas de sua família o havia rejeitado. O quadro que temos da cadeia não é de um José triste, mas de um homem que identifica a triste no outros e busca de algum modo repará-la. José, assim, nos lembra do apóstolo Paulo, alguém que aprendeu a viver feliz em todas as circunstâncias da vida (Fl 4.10-13).

3. A vida do justo é uma vida de bênçãos.
O foco de muitos crentes em nossos dias é a bênção. Assim, muitas das nossas igrejas estão se abrindo para um grande número de pessoas a procura de coisas como um bom emprego, a restauração da saúde física ou mental, um bom casamento ou a casa própria; gente que geralmente não buscariam a Deus se não visse Nele algo que, de alguma maneira, beneficiasse as suas vidas.

A história José nos parece um antídoto contra essa relação de barganha que tem se tentado construir com Deus em nossos dias. Algo do tipo: eu te dou algo para receber em dobro. Porque o José que vemos nas Escrituras, contanto seja finalmente ricamente abençoado por Deus, ele não é, a princípio, alguém que está a procura da bênção, mas uma bênção onde quer que se encontre. E por quê? Porque todo aquele, como disse Jesus, que está ligado a videira, produz bons frutos (Jo 15.5).

4. A vida do justo é uma vida de comunhão com Deus.
No tópico anterior destacamos que o cristianismo de nossos dias tem sede de bênçãos e para matar essa sede tem buscado construir uma relação de barganha com Deus como se esse fosse uma espécie de divindade pagã que precisasse de algo - um tipo de apaziguamento - para agir de modo gracioso com os seus servos. Essa perspectiva da fé cristã, contudo, não reflete o ensino das Escrituras, como se pode, por exemplo, observar na vida de José.

Perceba que José possui um relacionamento com Deus. Como? Veja que é o Senhor quem o faz conhecer o significado dos sonhos do copeiro e do padeiro. Mas essa relação de José com o único Deus que existe não é uma relação de barganha. Algo do tipo toma lá dá cá. De modo contrário, é relação de intimidade, de comunhão, visto que Deus só revela os seus mistérios, como cantou o salmista e reconheceu o profeta, para os que lhe são íntimos (Sl 25.14, Am 3.7).

Algo que também aponta na direção da comunhão de José com Deus é a interpretação do sonho do padeiro. Para aquele homem, as palavras que ouviu de José não foram palavras de bênçãos. Quem ao ouvir que morreria daqui a três dias diria ser essa uma palavra de vitória? Mas fazer o que? Aquelas eram as palavras de Deus. E José não era um pregador da prosperidade a distribuir bênçãos de caráter duvidoso e sem qualquer apoio divino, mas um jovem fiel ao seu Senhor.

A vida de José, desse modo, representa um grande desafio para o povo de Deus em nossos dias. Nos chama a rever muitos dos nossos conceitos. A reavaliar as ideias que temos de bênçãos, prosperidade, vida vitoriosa e comunhão com Deus. Além disso, José nos leva a perceber que Deus, não poucas as vezes, está agindo longe dos holofotes. Em lugares que muitos de nós não estamos dispostos a ir, como a cadeia, os albergues, os centros de recuperação de drogados e tantos outros endereços que nos parecem inóspitos.

Que Deus nos abençoe, Nele, o Deus que acrescenta.

Pr Hebert Borges

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2 Comentários

  1. Nobre amigo e Pr.
    Excelente Artigo!!!
    que Deus continue a te usar para louvor de sua glória.

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  2. Bênção pastor .....sempre muito usado...Deus o abençoe grandemente !!

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