RESENHA
Hebert Leonardo Borges de Souza
SIRE, James W. Dando
Nome ao Elefante: cosmovisão como um conceito. Trad. Paulo Zacharias e
Marcelo Herberts. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2012, 246 p.
O mundo
pós-moderno tem sido marcado pela pluralidade. Na prática, isso equivale a
dizer, já fazendo uso da linguagem de nosso tempo, que aquilo que é considerado
verdade para uma determinada pessoa pode ser a maior das mentiras para outra.
Essa forma diferenciada
de se ver o mundo tem sido objeto de análise de James W. Sire, um professor
universitário de literatura inglesa, filosofia e teologia que exerceu durante
um bom tempo o cargo de editor-chefe da InterVarsity Press, no livro “Dando
Nome ao Elefante”; um trabalho de oito capítulos de leitura interessante e extremamente
agradável.
Sire nos inicia nessa
leitura contando uma pequena história, cujo propósito é ilustrar as “duas
características básicas de qualquer cosmovisão: seu entendimento da realidade primordial e sua natureza pré-teórica” (p. 25). Na sequência, ele
destaca as circunstâncias que deram origem a sua obra. A primeira é a sua
“própria insatisfação com a forma que [...] havia definido cosmovisão na
primeira edição de O Universo ao Lado em 1976” (p. 28). A segunda foi “a
publicação do livro de David Naugle, Cosmovisão: A história de um conceito, que
forneceu uma fonte rica de informação sobre como esse termo e conceito se
desenvolveram” (p. 29). Por fim, Sire encerra o capítulo nos dando um roteiro
de sua obra e qual o seu objetivo com a mesma, a saber, expor a redefinição de
seu conceito de cosmovisão anteriormente exposto em “O universo ao Lado” a
partir de uma análise histórica do termo, bem como de todo o processo formativo
de uma visão de mundo.
No segundo
capítulo, como exposto no roteiro, o doutor Sire procede a uma investigação
histórica do significado e emprego do termo cosmovisão. Esse é um trabalho que
se inicia no idealismo alemão com Immanuel Kant e com o uso, mesmo que só de
passagem, da palavra weltanschauung, passa por Wilhelm Dilthey, o primeiro a
fazer uso do termo como foco principal, e chega até David Naugle, para quem
Sire dispensa maior atenção, por entender que Nougle apresenta uma definição de
cosmovisão abrangente ao combinar “(1) um compromisso ontológico com o Deus trino [...] das Escrituras, (2) uma
perspectiva subjetiva, profundamente incorporada e orientada pelo coração e (3)
um sistema semiótico de sinais narrativos” (p. 74, 75).
Iniciando as
ponderações sobre o caráter das cosmovisões, Jemes Sire discorre no terceiro
capítulo sobre a questão mais fundamental de todas as coisas. O seu objetivo é
destacar a importância que tem afirmar primeiro as primeiras coisas para
processo construtivo das cosmovisões. Sire demonstra isso recorrendo à análise
de duas circunstâncias: “(1) quando a ontologia precede a epistemologia e (2)
quando a epistemologia precede a ontologia” (p. 79) e chega à brilhante
conclusão de que “A ontologia deve preceder a epistemologia na formulação de
uma cosmovisão. Do contrário estaremos baseando toda a nossa cosmovisão na
estrutura frágil do ego humano [...]” (p. 109).
Dando
continuidade ao debate sobre o caráter das cosmovisiões, no quarto capítulo, o
doutor Sire lida com os seguintes aspectos universais das cosmovisões: “a
natureza teórica, pré-teórica e pressupossional das cosmovisões” (p. 112). O
propósito de Sire nessa parte de seu livro é demonstrar que “as cosmovisões não
são primeiramente teóricas, mas pré-teóricas (intuitivas) e/ou
pressuposicionias” (p. 112) e que esses elementos inerentes a toda e qualquer
visão de mundo se sobrepõem e formam a base de toda a nossa estrutura teórica,
bem como influenciam profundamente a nossa maneira de viver.
No quinto capítulo
Jemes Sire adiciona ao seu conceito de cosmovisão uma dimensão mais prática. A
sua ideia é demonstrar que uma cosmovisão não deve ser entendida apenas como
“um conjunto de proposições ou crenças que servem como respostas a um conjunto
sistemático de perguntas” (p. 133), como havia exposto em O Universo ao Lado, mas também como algo que está encarnado no modo
de vida das pessoas e nas histórias que fundamentam e iluminam esse modo de
viver.
O sexto capítulo
trata da relação entre as dimensões público-privada das cosmovisões e se as
mesmas são representações objetivas da realidade ou estruturas subjetivas
determinantes do que é percebido e entendido. Sire começa a sua abordagem nesse
capítulo, destacando que, apesar de a nossa cosmovisão possuir uma dimensão
privada e única, há coisas que em “nossa cosmovisão são comuns não apenas à
nossa família imediata, comunidade, nação ou século, mas ao todo da raça humana
no tempo e no espaço” (p. 159).
Procurando
demonstra como se dá a relação entre essas dimensões público-privada das
cosmovisões, Sire recorre ao conceito de cosmovisão como tipos de ideias ou uma
estrutura de plausibilidade e, desse modo, parece entrar por um caminho que
invariavelmente tem como final o entendimento de que uma cosmovisão não passa
de uma construção social subjetiva, o que justificaria, por exemplo, o pluralismo
sem medida da atualidade.
Esse, no entanto,
não é o último argumento de Sire. No seu entendimento existe ainda
“outra maneira de olhar para a possibilidade de conhecimento
objetivo” (p. 174). Ele defende que “Não precisamos começar a nossa jornada
intelectual com a questão de como sabemos. Se em vez disso começarmos com o que
existe, há uma forma de justificar que a nossa cosmovisão tem tanto uma
dimensão subjetiva como objetiva” (p. 173-174).
Dessa forma, Sire,
recorrendo mais uma vez a necessidade de a ontologia centrada em Deus preceder
a epistemologia, como ensina a Escritura, demonstra que uma cosmovisão tem
papel fundamental na apreensão da verdade.
No penúltimo
capítulo, Jemes Sire apresenta a sua nova definição de cosmovisão de uma forma
quase que exegética, pois analisa e expõe detidamente cada parte da mesma.
Merece destaque em sua nova definição a ideia de que uma “Cosmovisão é um
compromisso, uma orientação fundamental do coração” (p. 179) que assume várias
expressões.
Sire encerra o seu
tratado sobre cosmovisão ressaltando o importante papel que tem o estudo das
cosmovisões para a melhoria de nossa própria cosmovisão, para o entendimento das
cosmovisões de outras pessoas, bem como para a boa condução em um mundo cada
vez mais pluralista.
A obra de Sire,
como exposto, aprofunda a análise sobre o conceito de cosmovisão; uma caminhada
traçada desde a sua origem no idealismo alemão até a sua empregabilidade em
tempos pós-modernos. Escrita numa linguagem muito simples, essa obra é uma
leitura recomendada para aqueles que desejam se aprofundar no estudo sobre
cosmovisões e no próprio conceito de visão de mundo cunhado Jimes Sire, o qual
tem como centro a ideia de compromisso do coração.
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