RESENHA
Hebert Leonardo Borges de Souza[1]
KELLY, Douglas F..
Se Deus já sabe, por que orar?.
Trad. Elizabeth Zekveld Portela. 2º Ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, 192 p.
Há quem descreva
a igreja brasileira na atualidade como um povo que desaprendeu a orar. Neste
aspecto, a igreja no Brasil se assemelha a igreja em boa parte do mundo, bem
como parece ter assimilado o próprio “espírito
do mundo”, visto que tem colocado Deus em último lugar, em detrimento das
coisas humanas.
O pastor e
professor de teologia sistemática Douglas Kelly, em seu livro “Se Deus já sabe, por que orar?”, logo na
introdução desta obra, denuncia esta postura equivocada de nossas igrejas,
assim como demonstra bíblicamente, por meio da estrutura do Pai Nosso e de
outros textos bíblicos, que as verdadeiras bênçãos para a vida humana estão em
Deus e que a oração é um meio pelo qual Deus decidiu liberar estas bênçãos para
o seu povo. Não é, contudo, um meio mecânico, mas relacional, onde o próprio
Deus, por meio de seu filho Jesus Cristo, se faz presente de forma abençoadora
na vida daqueles que o buscam por meio da oração.
Esta forma de se
relacionar com Deus de uma maneira eficaz por meio da oração ensinada por Jesus
na oração do Pai Nosso tem sido o objeto de análise de Douglas Kelly nos oito
capítulos de sua obra. Não se trata especificamente de uma análise de cada
petição desta oração, mas uma busca pela essência daquilo que significa orar.
No primeiro
capítulo, Douglas Kelly procurar identificar aquele a quem dirigimos as nossas
petições, ou seja, quem é o Pai Nosso a quem Jesus nos ensinou a orar? Ou, dito
de outra forma, quem é Deus? Neste capítulo, portanto, Kelly passa a observar
alguns aspectos da natureza divina e o profundo abismo existente entre Deus e o
homem para, finalmente, concluir que orar é transpor o abismo entre o homem e
Deus por meio do trabalho realizado pelo Salvador na colina do Calvário.
No segundo
capítulo, Douglas Kelly se dedica a refletir sobre a importância do nome de
Deus e do quem vem a significar a expressão: “santificado seja o teu nome”. O Autor, deste modo, volta-se para o
contexto no qual a oração do Pai Nosso fora proferida e observa que o nome de
Deus aponta para o próprio Deus e todas as suas perfeições. Senso assim, Kelly
conclui que santificar o nome de Deus é louvá-Lo por tudo o que ele é e faz e
que isto, como documentado num atigo catecismo da igreja, é o fim supremo e
principal da vida do homem.
Por onde iniciar
e dar continuidade as nossas orações é o objeto de análise de Douglas Kelly no
terceiro capítulo. Focando na expressão “venha
o teu reino; faça-se a tua vontade...”, o autor expõe que neste estágio da
oração do Pai Nosso o que está em destaque é o plano ou propósito do soberano
senhor do céu e da terra. Seguindo o curso de seu argumento, Kelly demonstra,
portanto, que as orações do povo de Deus devem estar alinhadas com a sua vontade,
e que o prórpio Deus decidira que as orações de seus servos fariam parte das
realizações de seus propósitos.
Tomando como ilustração a experiência vivida
por John Knox, o qual, a poucos dias da morte, orava pela igreja, Douglas Kelly
procura demonstrar, no quarto capítulo, que na oração do Pai Nosso, Deus está
transformando as nossas vidas através de nossas petições. Ou seja, não se trata
de um orar isolado que egoisticamente busca os seus próprios interesses, mas de
um orar em comunidade que tem como fim a glória do próprio Deus por meio de
Cristo Jesus, que nos leva a ver mais claramente todas as promessas do Pai para
as nossas vidas.
Seguindo a mesma
lógica do capítulo anterior, Douglas Kelly abre o quinto capítulo trazendo uma
experiência pessoal. Ele nos conta como orou pela vida de uma jovem que
conhecera na faculdade e como a sua intercessão fora de fundamental importância
para que esta jovem viesse a se tornar a sua esposa. A intenção de Kelly nesta
parte de seu trabalho é demonstrar que a oração do Pai Nosso não apenas nos
ensina que a oração é capaz de transformar as nossas vidas, mas também de mudar
o curso da história e, é justamente por isso que temos na oração, que se apoia
em Jesus como o sumo intercessor, uma arma extraordinária para vencermos as
batalhas que enfrentamos em nossa caminhada.
No sexto e sétimo
capítulos, o autor trata de temas intimamente relacionados, isto é, do desafio que
temos de persever e de lutar em oração. Recorrendo as experiências de Jesus,
Daniel, Jacó e da aristocrata dinamarquesa Von Blixen retratada no filme Out of
África, Douglas Kelly demonstra que a Escritura, a oração do Pai Nosso e
própria experiência nos revelam a necessidade de perserar e lutar em oração. A
razão para isso, segundo o autor, é que Satanás, de alguma forma, oferece
resistência ao cumprimento de nossas orações e que o próprio Deus decretou
transformar as nossas vidas e nos conceder provisão, perdão e proteção por meio
da luta perseverante em oração.
No último
capítulo, Douglas Kelly aborda o difícil tema: quando Deus parece dizer não. Ou
seja, o que dizer, quando mesmo seguindo todos os requisitos, Deus parece dizer
não as nossas orações? Para o autor, muitas pessoas tendem a enxergar esta
questão de uma perspectiva errada e, consequentemente, fracassar na vida de
oração. A postura correta, segundo observa, seria entender que as negativas de
Deus estão alinhadas com os seus sábios conselhos nos quais devemos confiar e
nos submeter, sabendo que estas negativas as nossas petições contribuim, de
alguma maneira, para o nosso bem.
O livro de
Douglas Kelly ainda conta com uma sugestão de leitura anual da Bíblia e um
plano diário de oração. Esta é uma obra, como demonstra as inúmeras
experiências colocadas pelo autor, de alguém que fala de oração com
propriedade, ou seja, não se trata apenas de uma obordagem acadêmica a oração
do Pai Nosso, mas de um texto produzido por alguém que vive uma vida de oração.
Desse modo, esta é uma obra indipensável para aqueles que desejam aprender um
pouco mais sobre o tema da oração com quem tem se dedicado a fazer da oração
uma prioridade de sua vida.
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