Como lidar com os faltosos

A igreja tem muitos problemas! Essa é a realidade mais visível sobre o universo eclesiástico brasileiro em nossos dias. Um quadro que, lamentavelmente, nos faz perceber mais as dificuldades e falhas do chamado povo de Deus do que os seus acertos e virtudes.
Pensando nessa triste situação, o pastor Irland Pereira ministrava um curso na Faculdade Teológica Batista de São Paulo cujo título era: “Problemas pastorais”. E quais eram, segundo esse pastor, os problemas pastorais? Na verdade, os problemas da igreja.
A lista de problemas abordada por Irland em seu curso deixa isso claro:

·         Falta de compromisso dos crentes;
·         Individualismo e consumismo;
·         Famílias que querem mudar de igreja;
·         Resistência a mudança;
·         Falta de visão
·         Heresias
·         Conflitos entre o pastor e seus líderes/contestação da autoridade pastoral;
·         Igrejas traumatizadas com a conduta antiética e imoral de pastores;
·         Compromisso com o pecado. 
É interessante notar que os problemas enfrentados pela igreja contemporânea, listados pelo pastor Irland, não são uma prerrogativa de nosso tempo. A igreja primitiva, como demonstra o relato neotestamentário, também se viu diante de inúmeras dificuldades:

·         Em Jerusalém houve dissensão e murmuração (At 6);
·         Em Antioquia levantou-se problemas que foram debatidos no concílio de Jerusalém (At 15);
·         Em Coríntios temos aquilo que poderíamos chamar de uma igreja problemática;
·         O apóstolo João denuncia que existia na igreja gente que gostava de exercer a primazia, como Diótrefes (3 Jo 9,10)

É, portanto, uma ilusão pensar que a igreja primitiva esteve isenta de problemas, pois o testemunho que tem chegado aos nossos ouvidos aponta o contrário. Isto é, que o mundo é para o povo de Deus um lugar de aflições, mas nem por isso devia lhes faltar ânimo.
Além do ânimo necessário para lidar com as dificuldades da vida, as comunidades cristãs também precisavam de orientações. No texto de Paulo aos crentes da Galácia 6.1-5, por exemplo, observamos o apóstolo orientando a igreja como tratar com os faltosos.

Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo. Porque, se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada, a si mesmo se engana. Mas prove cada um o seu labor e, então, terá motivo de  gloriar-se unicamente em si e não em outro. Porque cada um levará o seu próprio fardo.

Quais são as orientações de Paulo para essa igreja? Como elas se aplicam a nossa realidade? Nos pontos a seguir, procuramos responder esses questionamentos.

1.      Os faltosos são um problema da igreja.

Estamos nos acostumando a pensar que os problemas da igreja são uma bagagem a ser carregada única e exclusivamente pelo pastor, isto e, que cabe a ele a responsabilidade de solucionar todas as dificuldades da comunidade.
Não há dúvida da importância do ministério pastoral para a solução de conflitos que surgem no meio do povo de Deus. Também é verdade que, no livro do Apocalipse, Cristo fez uma análise dos problemas das igrejas da Ásia Menor, expões aos seus respectivos pastores e cobrou-lhes uma solução. Isso, entretanto, não significa dizer que os problemas vividos pelas igrejas são de exclusivo encargo de seus pastores.
Essa é a lição que o apóstolo Paulo nos transmita na orientação dada aos gálatas de como deveriam tratar dos faltosos. Ele diz que a comunidade, certamente com os seus pastores, deveriam corrigir aqueles surpreendidos em alguma falta.
Perceber as dificuldades da igreja a partir dessa perspectiva de Paulo, sem dúvida, é de extrema importância para o enfrentamento aos problemas enfrentados em nossas comunidades.

2.      Os faltosos não devem ser tratados com indiferença.  
       
A mentalidade mundana de que cada qual resolva o seu problema entrou pelas portas da frente da igreja com o elevado número de pessoas que tem aderido à fé cristã e levou para o ceio do povo de Deus uma atmosfera de indiferença diante das dificuldades enfrentadas pela comunidade cristã.
Para mim, talvez esse seja um dos maiores males enfrentados pela igreja em nossos dias: os membros do corpo de Cristo não querem ser resposta de Deus para as dificuldades enfrentadas em suas próprias comunidades.
O apóstolo Paulo, contudo, tem uma visão bem diferente. Ele não consegue conceber a ideia de alguém surpreender, por exemplo, o seu irmão em alguma falta e fingir que não viu. Para ele, parece existir na natureza cristã algo como o dever moral – uma espécie de imperativo categórico kantiano – que o impulsiona a acudir o seu irmão que está a enfrentar alguma dificuldade em sua trajetória de vida.
Olhar o mundo e a comunidade com os óculos de Paulo é estar aberto para participar do processo restaurador que o nosso Deus tem empreendido no mundo.

3.      Os faltosos devem ser corrigidos.
Não a indiferença para com aqueles que estão em falta, mas a adoção de uma postura que visa corrigi-los de seus erros. Essa é o entendimento do apóstolo Paulo no trato com os faltosos.
Paulo, todavia, não entende que a correção de atitudes deve ser buscada de qualquer jeito ou mesmo por qualquer pessoa. Para o apóstolo, a ajuda aos faltosos deve ser empreendida se observando os seguintes critérios: 

·         Por pessoas maduras – os espirituais;
·         Com espírito de brandura – humidade;
·         Com cuidado – todos estão sujeitos a errar;
·         Com responsabilidade – com o nosso próprio fardo.

Corrigir como Paulo orienta àqueles que se encontram em falta em nossas comunidades, é seguir não só as mesmas pisadas do apóstolo aos gentios, mas trilhar nos passos do próprio Deus que não deixa de corrigir aos filhos que ama.

4.      Os faltosos ajudam a igreja a cumprir a lei de Deus.
 Embora pareça estranho, os faltosos podem desempenhar um importante papel no ceio da comunidade. São como aqueles partidos que Paulo fala aos Coríntios que mesmo trazendo algum mal contribuem para a que os aprovados se tornem conhecidos (1 Co 11.19).
Mas de que maneira em especial, os faltosos podem contribuir para o crescimento da comunidade? Quando a leva a acolher os irmãos em suas dificuldades. Quando alerta a comunidade para a necessidade de trazer correção. Quando o povo de Deus estende a mão para ajudar ao próximo a carregar a sua carga.
Agindo assim, para Paulo, o povo de Deus cumpre a lei de Cristo. Isto é, demonstra na relação de amor com o próximo que a sua relação amorosa com Deus não é apenas da boca para fora, mas de fato e de verdade.

Conclusão.    
Tomando como referência essas orientações de Paulo aos crentes da Galácias, podemos extrair uma grande lição: o maior problema da igreja é a indiferença para com os que enfrentam dificuldades, posto que revela um coração sem amor para com Deus e seu próximo. 

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